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Nossa homenagem este ano de 2014 será para ARIANO SUASSUNA, autor de " O Auto da Compadecida", e que faleceu no mês de julho de 2014.


A Leitora, de Frogonard / La Lectrice

terça-feira, 3 de agosto de 2010

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Aqui, iremos postar textos críticos, literários, notícias, editais e poemas vencedores do FORUM de BIOTEMAS da Universidade Estadual de Montes Claros em parceria com Escolas Básicas de Montes Claros-MG.





IV CONCURSO LITERÁRIO NOS ENTRELAÇOS DO VERSO: 100 anos do nascimento de Rachel de Queiroz

Profa. Dra. Maria Generosa Ferreira Souto
Departamento de Comunicação e Letras da Unimontes




RESUMO: Tem este texto a intenção de apresentar o resultado do IV Concurso Literário/2010 “Nos Entrelaços do Verso”, homenageando a escritora brasileira, Rachel de Queiros, pelos cem anos do seu nascimento.


Palavras-chave: Concurso Literário; Literatura brasileira; Rachel de Queiroz.



Este simples tecido está dividido em dois tomos. No primeiro, tomamos como base o grande nome de Rachel de Queiroz. Já no segundo traremos a importância do Concurso Literário, em sua 4ª edição, como parte integrante do Fórum de Biotemas, diálogo da Universidade Estadual de Montes Claros com Escolas Estaduais de Montes Claros.
O Tema Central do Concurso 2010 não podia deixar de fora a rememoração dos 100 anos do nascimento de um nome grande da literatura brasileira: Rachel de Queiroz. Ela que em 17 de novembro de 2010, completaria 100 anos. Viveu quase 93 anos de muita lucidez e jovialidade. Uma autêntica romancista brasileira, portanto deixemos a escritora revelar-se por si mesma.
Tornou-se a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras. Traduzida para diversos idiomas, tendo ainda livros adaptadas para o cinema e a televisão, Rachel de Queiroz obteve amplo reconhecimento por sua obra. Em 1989, a José Olympio Editora publicou sua "Obra Reunida", em cinco volumes. Em 1992 escreveu "Memorial de Maria Moura", romance que lhe trouxe diversos prêmios, entre eles o prestigiado Camões, dedicado ao melhor autor do ano em língua portuguesa. Aos 92 anos, dormindo em sua rede, morreu. Melhor lembrando o Guimarães Rosa: ela se encantou.
Até o século XX, as escritoras estiveram muito ausentes dos registros das consideradas grandes historiografias brasileiras. Nos compêndios de história literária, foram, em sua maioria, colocadas à margem pelos agentes que construíram o cânone. Apesar dessa lógica, surgiu na década de 1930 uma desbravadora a forçar passagem, cujas marcas não puderam deixar de ser percebidas: Rachel.

Rachel nos deixou um vasto tecido, como um cabedal de representações, em que a literatura, entendida como forma de representação social, fornece elementos importantes para a reconstrução de relações efetuadas em determinados períodos e espaços sociais. Senão, vejamos:

O Quinze (1930); Caminho de Pedras (1937); As Três Marias (1939); A Donzela e A Moura Morta (1948); Lampião (1953); A Beata Maria do Egito (1958); O Brasileiro Perplexo (1964); O menino mágico (1969); Dora, Doralina (1975); O Galo de Ouro (1985); Obra Reunida (1989); Memorial de Maria Moura (1992); As Terras Ásperas (1993). Colaborou como cronista para jornais e revistas e publicou uma série de traduções, de autores como Jane Austin, Balzac e Dostoievski.
Veja como pensava a romancista:
1. Invejo muito quem tem fé, que é um amparo e uma esperança.
2. Nunca procurei dar à minha obra um tom feminino.
3. Meu escritor preferido é Dostoievsky. E minha paixão Emily Brönte.
4. Sou uma solitária, que sempre se deu muito bem com a solidão.
5. Os jovens gostam muito de mim. Nem sei bem por quê.
6. A política só me interessa para ser contra. É muito bom.
7. Nasci em Fortaleza por acaso. Gosto mesmo é de Quixadá. O sertãozão.
8. Fiz muitos amigos na literatura. E um par de desafetos, também.
9. Manuel Bandeira disse que ninguém era tão Brasil quanto eu.
10. Nesta idade, cada dia vivido é uma etapa vencida. Vive-se o dia.
11. Não pareço os dias que tenho. Mas os joelhos me dizem o contrário.
Daí, vale ressaltar a importância de Rachel de Queiroz que, ao longo de suas publicações, exprimiu – explícita e implicitamente - essas distintas preocupações que rondaram o debate sobre a questão da nação brasileira. Lembramos, por exemplo, as representações em torno da relação urbano e rural, litoral e sertão, vida e morte. Ler e escrever. Criador e criatura.
O Concurso Literário está na sua quarta edição. Apresenta-se como objetivos despertar a criação literária nos estudantes do Ensino Fundamental e Médio, tendo em vista a poética de grandes escritores mineiros e brasileiros, e, ainda, incentivar a pesquisa sobre os escritores de Minas Gerais e do Brasil, do cânone e desantranhados dele.
Participaram do Concurso alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio das Escolas da Rede Pública Estadual. Com base na escolha da forma, do gênero textual, o trabalho poderia ser apresentado através de paródias, paráfrases, eruditos ou modernistas. Não havia necessidade de rimas e nem métricas. Apenas, deveria ser escrito em língua portuguesa e ter um título.
A premiação ocorreu em sessão solene no último dia do Fórum de Biotemas. Os alunos premiados receberam troféus, livros, brindes e medalhas de Honra do Mérito. Os vencedores são: 1º Lugar: “Construindo um Poema”, aluna Haynara Leal Brandão, da E.E.Prof. Plínio Ribeiro. 2º Lugar: “Viajar ...Viajar”, aluno Harrisson Leal, da E. E. Plínio Ribeiro. 3º Lugar: “A vida passa”, aluna Aretha Magno Ramos Melo Gonzaga, da E. E. Professor Alcides de Carvalho. A comissão examinadora tomou como critérios para avaliação: adequação ao tema proposto; coerência e clareza da exposição; expressão, imaginação e criatividade e, ainda, a coesão.
O resultado do concurso foi divulgado e publicado em painel na Escola Estadual Plínio Ribeiro. Encontra-se publicado no blog http://entrelacosdoverso.blogspot.com/
A importância de ler, escrever, criar, toma como base o que pensa Roland Barthes quando atribuiu à língua uma função maior que a simplesmente de comunicar. Viu na língua o "objeto em que se inscreve o poder", afirmando que "a linguagem é uma legislação" e "a língua é seu código". No dizer de Barthes, "não vemos o poder que reside na língua porque esquecemos que toda língua é uma classificação, e que toda classificação é opressiva". Diz ainda que a língua é fascista, pois não impede o sujeito de dizer, mas obriga-o a dizer. Barthes vê a língua como símbolo do poder e objeto de alienação humana. Para ele, a literatura é a única forma de trapacear a língua. Vejamos o que o escritor entende por literatura:
Entendo por literatura não um corpo ou uma seqüência de obras, nem mesmo um setor de comércio ou de ensino, mas o grafo complexo das pegadas de uma prática de escrever. Nela viso, portanto, essencialmente, o texto, isto é, o tecido dos significantes que constitui a obra, porque o texto é o próprio aflorar da língua, e porque é no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada: não pela mensagem de que ela é o instrumento, mas pelo jogo das palavras de que ela é o teatro. Posso, portanto, dizer, indiferentemente: literatura, escritura ou texto" (BARTHES, 2000, p.16).

Com esse trecho, percebe-se que Barthes encontra na literatura a liberdade necessária para a criação da língua, uma vez que a literatura é transgressão. E é com base nesse pensamento, que provocamos os alunos a criarem. Os seus textos e imagens nasceram da transgressão. Hoje, tem poder, nem que seja pouco, mas tem. As imagens transgressoras do eu se aproximam de modelos míticos e, na linguagem, encontram possibilidade de plena realização.

Enfim, ler é preciso. Criar é preciso, eis a questão.

BARTHES, Roland. O prazer do texto. Tradução: J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1996.